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Programas de ‘apanhados', magazines feitos à base de vídeos do YouTube, talk shows de manhã e de tarde, novelas em reposição e televendas são formatos que marcam cada vez mais as grelhas dos canais generalistas. A crise bateu à parta das estações portuguesas e a aposta em programas low cost, que permitam rentabilizar o investimento de uma forma mais imediata são, cada vez mais, uma constante.A Correio TV analisou as grelhas da RTP 1, SIC e TVI, fez as contas, e chegou à conclusão de que, por cada 24 horas de programação, cerca de 50 por cento é preenchida por programas com custos de produção reduzidos. A SIC é a que mais horas de baixo custo oferece, de segunda a sexta-feira, com uma média de 12 horas e 15 minutos. Seguem-se a TVI, com cerca de 11 horas, e a RTP 1, com aproximadamente 10 horas e 30 minutos. A estes valores deve ainda ser acrescentada uma média de 6 horas diárias, por canal, de programas de informação. As escassas horas que ficam fora destas contas estão, no geral, entregues a concursos, na RTP, e a telenovelas, na SIC e TVI."Sem dinheiro não há palhaço", diz o povo. Estamos na fase do palhaço pobre. As grelhas generalistas procuram soluções o mais baratas possível para a maior audiência possível. Tiro-lhes o chapéu: também é preciso imaginação para se fazer programas maus e baratos que, mesmo assim, sejam vistos por muita gente", afirma Eduardo Cintra Torres à Correio TV. De resto, o crítico de televisão acredita que a tendência "é para manter" e lembra que "reposições sem fim e programas com vídeos sacados do YouTube devem ser o horário nobre de TV mais pobre dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ]".Já Felisbela Lopes, pro-Reitora da Universidade do Minho, explica que "depois do aparecimento das televisões privadas, este tipo de programação foi aparecendo de forma intermitente, particularmente no Verão", quando os canais de TV optam por "soluções menos dispendiosas". Exemplo disso são os ‘apanhados' que tiveram várias fórmulas "sempre com sucesso garantido". Ainda assim, diz que "a crise que atravessamos propicia um fortalecimento desta engenharia de programação: barata, popular e de consumo descontínuo".A SIC é a estação que actualmente mais horas de baixo custo põe em grelha. As manhãs são ocupadas por ‘Cartas da Maya' e ‘Querida Júlia' que garantem que o canal não tem de fazer grandes investimentos. Na tarde, a estação aposta na repetição de uma novela e em mais um talk show. De madrugada, as repetições preenchem quase por completo a grelha, que é ainda ocupada com televendas. Ao fim-de-semana, volta a aposta em repetições e programas de baixo orçamento, que garantem audiências e publicidade. É o caso de ‘Gosto Disto!', com Andreia Rodrigues e César Mourão, de ‘Não Há Crise', com Vanessa Oliveira e Nuno Graciano (ver caixa), e das repetições de ‘Floribella'. "O nosso esforço tem sido reduzir os custos dos programas existentes, adaptar a grelha e comprar conteúdos a preços mais baixos", diz Luís Marques, director-geral da SIC, à Correio TV. O responsável aponta ‘Gosto Disto!' como um exemplo do que pretende: "um formato que alia excelentes resultados a custos baixos". "Dadas as contigências do mercado temos de nos adaptar", diz Luís Marques, que acredita que "a situação veio para ficar".